As cadeias de suprimentos hoje estão muito mais complexas e com fluxos de produtos, dinheiro e informações muito maiores que há alguns anos. A ruptura operacional de uma dessas cadeias, mesmo que por curtos intervalos, geram prejuízos e demandam esforços significativos até seu adequado restabelecimento. Prever e antecipar problema desta natureza é o papel do gerenciamento de riscos. Este artigo apresenta importantes ferramentas e conceitos que auxiliam neste gerenciamento: plano de continuidade de negócios, incident response e resiliência.O plano de continuidade de negócios é um conjunto de estratégias, planos e ações voltadas a aumentar a capacidade de um conjunto de processos empresariais a resistir a eventuais interrupções. Caso isso não aconteça, o método de incident response busca facilitar a gestão de uma crise instaurada visando o rápido restabelecimento da estabilidade das operações. Ambas as ferramentas buscam aumentar a resiliência dos processos, ou seja, a capacidade de recuperação do adequado funcionamento da cadeia de suprimentos interrompida.
“A logística, como interface entre fornecedor, empresa e clientes, passa a ter importância crescente. O bom desempenho da atividade logística agrega valor ao produto a ser comercializado, pois cada vez mais as pessoas estão atentas aos aspectos como confiabilidade, rapidez na entrega e disponibilidade de atendimento. Esses aspectos podem diferenciar muito os produtos comercializados, dando maior competitividade à empresa que consegue administrar bem seu sistema logístico, e estabelecem um padrão de atendimento adequado ao mercado”. (Lima, 1995, citado por Arruda, 2011)
Neste contexto, as empresas buscam formas de administrar melhor o seu desempenho, otimizar os estoques e planejar melhor as vendas, através da utilização de ferramentas como o gerenciamento da cadeia de suprimentos (SCM – Supply Chain Management), o sistema de entrega no tempo certo (JIT – Just in Time), o processo de resposta rápida (Quick Response) e o acompanhamento do consumidor (ECR – Efficient Consumer Response). Para Svensson, essas filosofias consideram o tempo, a funcionalidade e as relações de dependência entre as atividades da cadeia de suprimento. A vulnerabilidade na cadeia de suprimento é o resultado direto da dependência entre as várias atividades.
Hoje, o principal problema no gerenciamento da cadeia de suprimento são as formações de várias subcadeias e a sua eficiente coordenação. Isso requer o gerenciamento de um fluxo complexo de informações, de materiais e de recursos financeiros, através de múltiplas áreas funcionais dentro e entre as empresas integrantes da cadeia. A obsessão das empresas por velocidade e reduções de custos tende a causar colapsos na cadeia de suprimento, pois esta está cada vez mais enxuta e mais integrada a outras. Assim, o problema, em uma das conexões da cadeia, irá afetar as outras conexões da mesma cadeia gerando um grau maior de incerteza.
Consciente disso, o meio acadêmico, impulsionado pelos vários setores industriais, passou a analisar as cadeias de suprimento visando identificar formas de mitigar os riscos a que elas estavam expostas. Dessa forma, surgiram conceitos como o Gerenciamento de Risco na Cadeia de Suprimentos (SCRM – Supply Chain Risk Management -), Gestão/Plano de Continuidade de Negocio (BCM – Business Continuity Management e BCP – Business Continuity Plan) e o Gerenciamento de Incidente (IM – Incident Management), todos visando reduzir o impacto de um evento de risco e garantir uma recuperação mais rápida à empresa, ou seja, uma maior resiliência.
Esses conceitos, na maioria das vezes, são tratados isoladamente, quando no nosso ponto de vista são conceitos integrados e até mesmos sobrepostos. O objetivo desse artigo é apresentar uma breve definição dos conceitos (risco, gerenciamento de risco, gerenciamento de incidente e resiliência) e apresentar uma proposta de interrelacionamento.
Conceito de Risco
O risco pode ser definido como a incerteza do resultado. Caso o resultado seja positivo, tem-se uma oportunidade e pode-se agregar o ganho. Se o resultado for negativo, tem-se uma ameaça, que, neste caso, deverá ser tratada. (HM Treasury, 2004)
Os eventos podem ter impacto negativo, positivo ou ambos. Os eventos com um impacto negativo representam riscos, os quais podem impedir a criação de valores ou causar a erosão dos valores existentes. Os eventos com impacto positivo poderão contrabalancear impactos negativos ou representar oportunidades. As oportunidades são as possibilidades de que um evento possa ocorrer e afete positivamente a conquista dos objetivos, suportando a criação de valores ou preservando-os.
Segundo Ritchie e Brindley apud Zsidisin et. al. (2008.), as definições mais gerais e risco têm em comuns três dimensões: probabilidade de ocorrência de um evento em particular ou resultado; consequências de um evento em particular ou resultado ocorrido; e exposição ou trajeto causal levando ao evento.
A probabilidade de ocorrência pode ser expressa em termos objetivos ou subjetivos, sendo cada um capaz de ser medido, embora utilizem escalas diferentes, frequentemente derivada da experiência e da intuição. Consequências são tipicamente expressas, como um múltiplo de resultados simultâneos, muitos dos quais interagem uns com os outros (a falha no lançamento de um novo produto talvez gere consequências para a reputação da organização, desempenho financeiro e a posição de um produto individualmente campeão). As consequências não deverão ser simplesmente consideradas como (ou somente) um resultado negativo, mas também poderão produzir resultados positivos. Trajeto causal tem particular importância no gerenciamento do risco. Compreender a natureza, fonte e causa de fatores que geram os eventos ou circunstâncias que podem ter algum tipo de influência são requisitos fundamentais para a efetiva gestão de riscos.
Os termos risco e incerteza quase sempre estão associados, e as pessoas frequentemente assumem que os dois termos têm o mesmo significado. Porém, segundo Water (2007), há uma significativa diferença entre eles. A incerteza significa que nós podemos listar os eventos que poderão ocorrer no futuro, mas não temos ideia sobre o que irá acontecer ou suas probabilidades de ocorrência. Já o risco significa que nós podemos listar os eventos que poderão ocorrer no futuro e podemos dar a cada um deles uma probabilidade. Resumidamente, o risco implica resultados incertos de probabilidades conhecidas e isso difere de incerteza, que implica resultados incertos de probabilidades desconhecidas.
Formalmente, o risco pode ser expresso com a probabilidade de que algum evento irá ocorrer versus as consequências da sua ocorrência. Os riscos ocorrem porque nós nunca sabemos exatamente o que irá acontecer no futuro. Nós podemos utilizar as melhores previsões e fazer todas as análises possíveis, mas sempre haverá uma incerteza em relação aos eventos futuros. O risco, em uma empresa, tem início na definição da sua estratégia de negócio e no estabelecimento das suas cadeias de suprimentos.
Conceito de gerenciamento de risco
O risco na cadeia de suprimentos é qualquer ameaça de interrupção do funcionamento da cadeia. O risco pode ser gerado como resultado de condutores de risco, que são internos ou externos à empresa. Os fatores externos são as áreas de risco que são mais comumente pensadas pelos gestores. Exatamente pela razão de serem externos e, portanto, podem ser entendidos como incontroláveis. Os riscos de imprevisibilidade da demanda, de fornecimento confiável, os efeitos dos choques externos no negócio, o ambiente social e climático, são todas as áreas que usamos como bodes expiatórios para resultados inesperados. Os condutores internos de processo, controle e mitigação/contingência são os que mais firmemente estão sob a direção da própria empresa e, portanto, sendo os menos óbvios e, assim, fontes de vulnerabilidade.
Segundo o relatório executivo Supply Chain Vulnerability, o gerenciamento de riscos da cadeia de suprimentos tem como objetivo identificar as áreas de riscos potenciais e tomar medidas adequadas para conter esses riscos. Por isso, pode ser definido como “a identificação, a gestão dos riscos e os riscos externos da cadeia de suprimentos devem ser feitos através de uma abordagem coordenada entre os membros da cadeia de suprimentos para reduzir a vulnerabilidade da cadeia de suprimentos como um todo”.
O gerenciamento de risco, em geral, é um processo que visa um equilíbrio eficiente entre a percepção das oportunidades de ganhos e a minimização de vulnerabilidades/perdas. É parte integrante da prática de gestão e um elemento essencial da boa governança corporativa. O gerenciamento de risco deve ser um processo infinitamente recorrente que consiste de fases, que quando devidamente implementadas, permitem a melhoria contínua no processo de tomada de decisão e do desempenho.
A nova abordagem do gerenciamento de risco é um processo formal que envolve a identificação de potenciais perdas, entender a probabilidade do potencial das perdas e atribuir consequências para essas perdas. O gerenciamento da cadeia de suprimentos procura reduzir esses riscos e melhorar o desempenho competitivo por meio da integração estreita das funções internas dentro da empresa e a sua vinculação eficaz com as operações externas dos fornecedores, dos membros do canal e dos clientes finais.
O gerenciamento de risco deve ser um processo de desenvolvimento contínuo que corre ao longo da estratégia da organização e da implantação dessa estratégia. Deve analisar metodicamente todos os riscos inerentes às atividades do passado da organização, do presente e, em particular, do futuro. Deve ser integrada na cultura da organização com uma política eficaz e um programa liderado pela alta gerência. Deve traduzir a estratégia em objetivos táticos e operacionais, atribuindo a responsabilidade por toda a organização, tendo cada gerente e funcionário a responsabilidade da gestão de risco como parte de sua descrição do trabalho, promovendo assim a responsabilidade, as medições de desempenho e a recompensa pelo desempenho, gerando eficiência operacional em todos os níveis
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